segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

AMIZADE


Chocolate quente

Uma casa. Candeeiros acesos. Duas pessoas. Uma noite. Um simples sonho.
Não sei bem porque aqui estamos. É a noite mais fria que já presenciei. Dou uns passos pela pequena sala: Um jarrão cor-de-prata encontra-se ao lado de um sofá laranja, tão pequeno que é difícil caberem lá duas pessoas. Em frente, o som da madeira a estalar dentro da lareira invade a divisão. Pelo menos conseguimos enganar o gelo que está lá fora.
Estou bastante preocupada. O meu namorado deve estar à minha procura, assim como a minha mãe. Eu disse-lhes que ia apenas sair com uma amiga minha e que era capaz de demorar. Por ela tudo bem, mas, ambos sabemos como ele é. Isso é algo que prescinde qualquer tipo de comentários.
- Tens fome?
- Não, estou bem.
Ele acena-me e senta-se ao meu lado. Nós fomos sair, claro que sim. Estavam lá aqueles dois nossos amigos que se tornaram indispensáveis nas nossas vidas e mais uns quantos que também são importantes mas, por volta da meia-noite, senti vontade de fugir do bar. Estava a sentir-me muito quente. Talvez tivesse a ver com a bebida que tinha ingerido. Saí para a rua e sentei-me no passeio. Minutos depois lá estava ele sentado ao meu lado e a perguntar-me se não queria ir dar uma volta com ele. Aceitei a proposta. Algum tempo depois aqui estamos nós, na sua casa.
- O que se passa?
- Nada.
- De certeza? – Pergunta delicadamente
- Sim.
Mas não é verdade. O que se passa é que eu estou nervosa e sem jeito. Gosto demasiado de estar ao seu lado e isso é injusto para algumas pessoas. E não sei se ele sente o mesmo que eu. Se a sua vida ganha uma outra faceta só por me ver, tal como acontece comigo. O simples facto de vê-lo dá-me ânimo para sorrir durante um dia inteiro. E eu sei que isso é estúpido!
- Vou fazer um chocolate quente, queres?
- Pode ser, obrigada.
E sai disparado para a cozinha. Aqui percebo que, também ele, se está a sentir diferente. Ele é sempre tão descontraído e agora está tenso. Não consigo evitar um sorriso. Um fio de esperança entrelaça-se com um fio de raiva: Por um lado parece que ele está a sentir o que eu estou a sentir, por outro, é tão injusto para o meu companheiro que nem sei em que buraco me hei-de meter.
- Toma – Disse, entregando-me um copo a fumegar.
- Obrigada.
- Sabes – A sua voz falha – Fazes-me lembrar este copo de chocolate quente.
Dou uma gargalhada.
- Como assim?
- Aqueces-me e és doce.
É neste momento que me esqueço de que tenho pessoas que vão sofrer por esta noite estar a acontecer. Esqueço-me de que ele, de certa forma, também deve explicações a alguém. Sinto os seus lábios tocar nos meus a medo, com cuidado, como se fosse um momento demasiado precioso para ser quebrado. Pode ter sido uma frase pirosa, sem piada ou até muito vulgar mas, para mim, era aquilo que mais desejava ouvir. Obrigada pela nossa noite.
[Viva aos sonhos, à imaginação, à fantasia]